Happystologie I / II



I. Ressonância Magnífica

Gosto de ti historicamente. Através das décadas. Como de um território, queria a ocupação.

Apetece-me procurar-te. Já lá vai tempo. O meu tempo é teu. Apetece-me procurar-te as coisas que não encontras. Cozinhar-te, cozinhar para ti. Ler livros para depois me explicares. Viajar contigo, jantar contigo, estar muito longe contigo. Apetece-me que percebas que quero quase nada na vida como te quero a ti.
Que te quero a ti na vida. Que esta cama é tua. Que o meu tempo é teu.
Que este olhar, quando longe, está em 2010 ou 2037, contigo.

Na minha cabeça este papel seria prodigioso. Logo no início, falaria do primário da paixão, da cor primeira, do soco sem ar, que é o teu nome a instalar-se no meu coração.
Neste papel, dir-te-ia tudo o que seria preciso para estares ao meu lado.
Neste papel, falaria desta coisa sísmica que sinto.
Neste papel, explicava-te que há uma camada subdérmica da minha dimensão toda, com o teu nome, com o teu fazer-parte...que se torna ensurdecedora nos dias e nas noites em que não estás.

As tuas mãos.

Há uma tempestade furiosa por debaixo do meu querer, é a distância, os hiatos em que fico a gostar, silenciosa, a gostar só, e a acreditar que um dia, sou eu a dobrar os meus braços à volta do teu pescoço enquanto fumas e trabalhas sossegado, em estertor de pantufas e solidão e eu assisto e gosto mais.

Neste papel, dir-te-ia, que este tempo todo nada tem de obsessão.
É tão distante e diferente disso.
Estive a existir com o propósito de ti. Estive a ser coisas para te dizer, para te mostrar, para te ir amando, para te poder dar algum brilho que tivesse...
Estás aqui por dentro. Eu com o propósito de ti.
Penso nisto diariamente. E no medo de não sentir mais.(E em ti...)

Sigo nestas direcções todas confusamente...nos dias que és ocupação, nos dias que és desejo, nos dias que não me és, nos dias só dias, nos dias atravessada por ti , nos dias sós, nos dias só dias.
Nos dias todos que começam e acabam a amar-te, todo tu, sem duração.

(...)

Mar 09
 
Depois algumas coisas más, o medo de novo, os sustos, os lados frios da cama, as noites brancas, o pescoço torto da insónia, os versos todos que cabem num história assim, tanta coisa a mais, línguas a mais, roupa por passar, panos na corda, coisas ao vento... o quotidiano às vezes inerte podia pesar...sei algumas coisas de latim, tenho almoços de família, cartas de referência, dobro as meias...falo um pouco mais de três línguas, falo demais, sei capitais e alguns nomes de plantas... e tudo isto pode ser a mais.


Podia esquecer isto. Esqueço tudo. E amo-te.


Queria dizê-lo.




II.




Tu todo.


III.


Volto aqui. Preciso de te dizer tudo. É difícil estar longe. Não é quase possível.
Chicotes pelo corpo, a latejar a pele, por dentro, por fora - e se falamos ao telefone, ficam-me a dardejar bandeiras em alvoroço pelo corpo - tudo orgânico - dá-se por dentro.
Às vezes na lonjura, penso como no Shakespeare "tanto amor desperdiçado"... e olho para as minhas mãos e penso-as no teu cabelo...penso que queria andar de bicicleta contigo, tomar banho no mar contigo e fazer-te café todos os dias... todos os dias que quisesses.


E corro.


Depois escrevo-te e é um silêncio... o espaço todo sem saber como...onde...todo o mistério, mas também todo o medo de Não... de Assim-Assim...incertezas a invalidar o coração.
Nó.
Coração acelera...respiro muito pouco...e medo.
TENHO MEDO DE TE CANSAR. DE PESAR NO TEU CORAÇÃO.




IV.


Penso-me para ti. E agora há idade.
Há as falências, os cansaços. E eu a pensar que de mão dada em silêncio também está bem.
Cuidar-te. Gostava que soubesses.


O meu silêncio para juntar ao teu.


(...)


Abr/Jul 09

1 comentário:

  1. Que força. Num tempo destes, um gesto assim, não é menos que heróico.

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