Novembro

Tu, que não conheço ainda, ou imagino que não conheço, ajuda-me a ficar.
Ocupo pouco espaço, quase não faço barulho, nunca grito, não incomodo ninguém.
Leva-me contigo e ajuda-me a ficar. Tenho a ternura simples mas aos nós.

Como as tuas unhas são mais compridas do que as minhas desata-me isto tudo.
Mãos impregnadas de nuvens, ossos suaves como o leite, vagarosos, certeiros.
É bom nascer no instante em que o ar é mais frio do que a água.
Trouxe-o aqui no bolso para ti.
Há-de haver, nalgum sítio, a minha última casa.

António Lobo Antunes

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